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Abro a carta com talvez a melhor notícia da semana: nosso vôlei feminino vai para a final nas olimpíadas!
Ruídos

Apertemos os cintos – a  turbulência parece não querer nos deixar.
Desde aquela sexta-feira, 25 de junho, onde o powerpoint da proposta de reforma tributária começou a circular, os mercados não tem tido trégua. Se o final de junho foi atrapalhado pelo balde de água fria que representou a versão inicial da proposta, o término de julho padece de ruídos em torno do parcelamento de precatórios, votação eletrônica, e bolsa família. O mau humor parece instalado, fazendo sofrer todo tipo de classe de ativo, no que parece mais uma daquelas tempestades perfeitas que teimam em assolar nossas terras. Nos mercados, a notícia do aumento de 1% (100 pontos base) levando a taxa de juros à 5,25% não pegou ninguém de surpresa – mas isso não deveria diminuir a importância da sinalização. A última vez que o Copom tomou uma decisão de tamanha magnitude foi em Março de 2003. Me lembro bem, faltavam menos de 3 semanas para meu casamento, e andava mais preocupado com os preparativos finais do complexo evento, do que com o Henrique Meirelles, recém empossado como presidente do Banco Central do primeiro governo de Lula. A nova taxa de juros a partir daquele mês? Estratosféricos 26,5% ao ano.

 
Robinhood
Durante boa parte do segundo trimestre de 2020, peguei emprestado o termo “gamificação” para descrever o fenômeno de corrida à bolsa de valores como forma de entretenimento durante a pandemia, principalmente entre os jovens. Se foi verdade que os generosos cheques de auxílio do governo americano foram usados para apostar no mercado financeiro, enquanto casinos de Las Vegas permaneciam fechados, então não haveria maior beneficiário do fenômeno do que a Robinhood. A novata corretora americana, cuja missão, assim como o herói do folclore inglês, parece ser “roubar dos ricos” (o sistema financeiro e seu vilão principal, Sr. Wallstreet ) para “dar aos pobres” (o pequeno investidor), abriu seu capital (IPO) uma semana atrás, e de forma estrondosa. Os números do negócio parecem validar a tese dos investimentos encarados como jogo: quase metade da receita da companhia (46%) vem de operações com opções (uma forma de derivativo financeiro altamente especializado, com elevado grau de especulação e alavancagem), mesmo quando tais ativos respondem por diminutos 3% do que está sob custódia. Preocupa-me ver que parte desta tendência parece estar sendo replicada mundo afora, inclusive por nossas terras.
CCPO
O tema parece finalmente ganhar a luz do dia com o aperto regulatório do governo chinês. Um artigo recente atacou a indústria de games de lá diretamente, declarando tratar-se de “ópio espiritual”. Explorar este defeito de fábrica do ser humano, minando nossos mecanismos de autocontrole, parece de fato lucrativo. Aquilo que a indústria de jogos e as mídias sociais já tinham descoberto (sim, me refiro aos feeds infinitos do Insta e do TikTok), o mundo das finanças parece querer também abraçar, como neste episódio do Robinhood. Interessantemente, em vários artigos e podcasts que escutei sobre esta mão pesada do governo chinês para com o assunto, vi americanos se referirem ao partido que governa o país através da sigla CCP – “Chinese Communist Party”. Impossível não fazer a associação com a antiga CCCP, que era como a união soviética se auto-identificava (em seu idioma e alfabeto cirílico) até o começo da década de 90. Como adolescente nos anos 80, parece evidente fazer um paralelo do atual cenário com a guerra fria que vivemos naquela época. Para quem quiser se lembrar do clima que Hollywood criou em torno do assunto, recomendo dois filmes icônicos, ainda que sofríveis: “Firefox“, de ’82 com Clint Eastwood, e “Rocky IV” de ’85. No primeiro, Clint rouba uma avançada aeronave soviética controlada por pensamento (sim, já falávamos do assunto na época!), e, no segundo, Stallone enfrenta o temível lutador Drago, interpretado pelo sueco-nada-soviético Hans Lundgren. Confesso: ando saudosista. 
Retornos Razoáveis III
Volto com a terceira prestação da minissérie sobre qual rentabilidade devemos usar em nossas planilhas de 30 anos. No primeiro capítulo, argumentei que devemos ser críticos com relação à razoabilidade, e veracidade, dos números usados. No segundo, alertei sobre os perigos de usar uma estimativa alta demais, especialmente para o patrimônio como um todo. Neste, jogo luz no ponto crucial de que qualquer retorno estimado tem que levar em consideração a inflação. Estimar a inflação pessoal de cada dinâmica familiar é assunto para ser tratado caso-a-caso. Portanto, para simplificar, combinemos que a rentabilidade esperada deve ser a real, ou seja, acima da inflação. A indústria de fundos de pensão nos dá alguma pista sobre o que seria um número razoável. No Brasil, é comum encontrar planos de pensão com metas atuariais (cuja ciência também foge ao escopo aqui) de IPCA + 6%. Nos EUA, sistemas públicos de pensão tem uma meta um pouco mais econômica, em torno de inflação + 4,5%. Tomemos um meio do caminho. Seria então 5% um número mágico a ser usado em planejamentos de longo prazo? Bem, ambos países enfrentam dificuldades para acreditar que conseguirão entregar tais retornos, e andam buscando renegociar com seus participantes. O número de IPCA+6% no Brasil, nos tempos de juros turbinados, costumava não tirar o sono de gestores – dado que a oferta de títulos com este tipo de rentabilidade era farta. Não é o caso hoje. Uma curiosidade, as famosas NTN-B, títulos do governo que pagam juros (cupom) semestrais, são emitidos originalmente pelo tesouro à taxas de justamente 6%. Onde quero chegar? Concluo na carta #100.

Há um assunto ressurgindo recentemente, no mínimo intrigante: a real possibilidade de que o vírus da Covid tenha vazado de um laboratório, em oposição à teoria que viemos a aceitar sobre o hospedeiro animal. Sinceramente, acho que teorias da conspiração ornam muito melhor com as telas de Hollywood, mas, se há alguém sério que pode fazer um apanhado científico, e nada enviesado do assunto, trata-se do meu guru Peter Attia. Já recomendei inúmeras vezes o podcast deste médico canadense radicado nos EUA. Sempre relembro de sua paixão pelo automobilismo brasileiro, tendo inclusive batizado um de seus filhos de Ayrton. No episódio 169, Peter entrevista Katherine Eban, jornalista investigativa que explora de forma cartesiana ambos lados da controvérsia. Provavelmente nunca saberemos definitivamente, já que a possibilidade aventada certamente geraria enorme controvérsia geopolítica. Disponível tanto no link indicado, como no seu player de podcasts favorito. O meu? Uso o stitcher.

Esta carta semanal tem o objetivo de fazer um apanhado breve e bem-humorado das notícias do mercado financeiro, com foco nos temas de gestão de riqueza e planejamento
financeiro. O texto não constitui nenhuma oferta de produto financeiro, ou recomendação de investimento. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem o posicionamento oficial da Portofino Multi Family Office. Pedro Saboia é sócio da Portofino Multi-Family Office, investidor profissional, CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA), e Consultor de Valores Mobiliários autorizado pela CVM, conforme instrução 592. A Portofino cuida das pessoas para que alcancem um futuro financeiro equilibrado – com ética, transparência e responsabilidade. Quer conhecer mais? Agende uma conversa conosco!