fbpx
Tempo de Leitura: 4 mins
Você está gostando das cartas Causa e Efeito?
Por favor, deixe seu feedback no final. Ele é muito importante para aprimorarmos os conteúdos.

Família Portofino,

Nesta semana, circulou em vários grupos de WhatsApp do mercado financeiro, uma tabela de projeções da SELIC para o fim de 2021, publicada em janeiro deste ano pelo jornal Valor Econômico. Na matéria, noventa instituições foram consultadas e várias projetaram a manutenção dos juros em 2%, duas casas mais pessimistas apostaram em 5% e a mediana dos palpites ficou em 3,25%. Na última quarta-feira, o Banco Central elevou a taxa de juros básica para 9,25%. Todos erraram e de longe.

É verdade que esse ano tem sido particularmente complicado, dado que fomos forçados a lidar com inéditas consequências do processo de retomada pós pico da pandemia. Mas, é necessário também reconhecer que o mercado tem enfrentado tremenda dificuldade em projetar acertadamente dados macroeconômicos e os preços futuros dos ativos financeiros. Estamos cuidando para não nos apegarmos em projeções eventualmente falaciosas.

Hoje, a mais corriqueira delas, é a afirmação de que o próximo ano será difícil para ativos de risco em função das eleições presidenciais. Não é raro escutar a afirmação que teremos um ano de grande volatilidade, por exemplo, na bolsa. A intuição de que anos eleitorais são obrigatoriamente mais voláteis não para de pé após uma simples análise do comportamento do Ibovespa, nas nossas seis últimas eleições presidenciais.

Em 2018, a oscilação do Ibovespa se manteve no nível do ano anterior. Em 2014, tivemos um aumento um pouco mais significativo, mas em compensação, em 2010 observamos uma redução considerável quando comparada aos níveis de 2009. Por último, em 1998 e 2002, também não se verificou mudança importante da intensidade da volatilidade. Dado isso, pode-se assegurar que também não existe um padrão necessariamente negativo para a rentabilidade nos anos eleitorais. No período analisado observamos três anos positivos e três negativos. Na maioria das vezes, o mercado antecipa e já precifica as incertezas e acreditamos que muito do risco eleitoral já foi incorporado aos preços dos ativos.

Essa tendência de se associar aumento de risco às eleições presidenciais não é um privilégio tupiniquim. Analistas de instituições tradicionais previram um ano complicado para o S&P500 caso os Democratas vencessem as eleições americanas do ano passado. Os Democratas não só retomaram a cadeira presidencial, como mantiveram a liderança na Câmara e, depois de seis anos de comando Republicano, assumiram também o Senado. As bolsas americanas caminham para fechar mais um ano com resultados excepcionais.

Não queremos aqui pregar a favor de alocações maiores em renda variável. Os juros caminham para dois dígitos até março do ano que vem. Além disso, já observamos uma migração de fundos de renda variável para ativos de renda fixa o que, a depender do perfil, pode sim, fazer sentido do ponto de vista do retorno ajustado ao risco. Contudo, alertamos para evitarmos as análises rasas que sugerem relações de causalidade não necessariamente apropriadas.

O próximo ano exigirá ainda mais dos gestores de patrimônio, pois o ano eleitoral agregará um nível a mais de complexidade a um cenário já bastante complicado. O aparecimento de novas cepas do coronavírus, mantendo os gargalos nas cadeias de produção e ameaçando a reabertura das economias, aliados à retirada atabalhoada dos estímulos nas economias desenvolvidas com o aumento da inflação mundial e potencialmente dos juros, as alterações climáticas no mundo e a restrição hídrica no Brasil, bem como a desaceleração da economia chinesa, derrubando preço de commodities, os ataques cibernéticos e a competição pela hegemonia mundial entre a China e os Estados Unidos, são alguns dos riscos que já estamos monitorando.

A eleição presidencial será mais um fato a ser minuciosamente acompanhado, porém, neste caso não descartamos uma externalidade positiva apesar de pouco provável agora.
E que venham as projeções para 2022, muitas delas provavelmente equivocadas.

Aproveitem o fim de semana!

Edu Castro
Chief Investment Office
Portofino Multi Family Office

______________________________________________

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.

”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que aconteceu no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.