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Família Portofino,

A percepção de grande parte do mercado de que o governo, leia-se Executivo Federal e Congresso, não mais demonstrará total comprometimento com a redução dos gastos públicos, precificou a piora da qualidade de crédito da nossa dívida. Aumentou o prêmio de risco exigido pelos investidores, e segue o jogo. Promulgada a PEC dos Precatórios e finalmente virada essa página, nossos mercados voltaram a se correlacionar com mercados internacionais que hoje digerem dois principais temas: a política monetária dos países desenvolvidos e a variante Ômicron. A despeito da constatação da maior transmissibilidade e das dúvidas que ainda persistem quanto à hospitalização e óbitos potenciais provocados pela nova cepa, os principais bancos centrais passaram a reconhecer a maior persistência da inflação. A adjetivação de transitoriedade não mais aparece nos seus discursos.

A inflação corrente, em níveis muito superiores às suas médias históricas, é um problema que a maioria das principais economias do mundo está tendo que lidar. Por exemplo, a inflação ao consumidor de 12 meses nos Estados Unidos encontra-se hoje em incríveis 6%. Com o número divulgado em novembro, a inflação americana ao produtor dos últimos 12 meses, comparável a uma das componentes do nosso IGP-M, foi a mais alta em quase 40 anos. Os bancos centrais inglês, americano, japonês e europeu já explicitaram suas estratégias de retirada de estímulos e aumento de juros. O Brasil já vive este processo desde março deste ano com o início do ciclo de aumento da SELIC.

Para os mercados, a condução cuidadosa desse processo de normalização da política monetária, principalmente nos Estados Unidos, é fundamental para a continuidade de um ambiente mais positivo para todos os ativos de risco. A taxa básica de juros americanas baliza a precificação de todos outros ativos financeiros no mundo. A determinação, tanto do nível quanto da velocidade, em que os aumentos serão implementados, definirão o comportamento dos mercados nos próximos meses. Apesar de continuarmos positivos com o cenário externo, essa é hoje a nossa maior preocupação.

Aqui dentro, as eleições começam a aquecer seus motores. Definidos os principais pré-candidatos, já começamos a ver as primeiras movimentações. De forma ainda tímida, observamos as primeiras conversas no sentido de se fazer alianças e balões de ensaio para se testar a aceitação de possíveis candidatos à vice-presidência. Para colocarmos em perspectiva o quão longo será esse caminho, pelo calendário eleitoral, os partidos têm até o início de agosto de 2022 para deliberar sobre as coligações e escolha dos candidatos a presidente e vice-presidente, senadores, governador e vice, deputado federal, estadual e distrital.

Novas pesquisas foram divulgadas mostrando um crescente favoritismo ao ex-presidente Lula, mas essas, pouco afetaram os mercados. Por que? O mercado tende a simplificar suas análises. A recente alteração das regras fiscais fez com que a dobradinha Bolsonaro-Guedes perdesse a alcunha de garantidores da responsabilidade fiscal. A predileção da Faria Lima se dará por aquele que maximizar a perspectiva de crescimento sustentado por reformas estruturantes e responsabilidade com os gastos públicos, simples assim. Isso se dará paulatinamente através dos discursos, mas principalmente com o anúncio das respectivas equipes econômicas.

O governador de São Paulo, João Dória, já oficializou a presença do ex-ministro Henrique Meirelles, que o acompanha em todos os eventos e encontros com o mercado financeiro. A ironia que reforça nossa descrença quanto à antecipada predileção por qualquer candidato está na constatação de que o mesmo Henrique Meirelles ocupou o cargo de presidente do Banco Central de 2003 a 2011 durante o governo Lula. Reforçando que a independência do BC só foi aprovada agora em 2021.

Os mercados locais mostraram forte recuperação nas últimas semanas e nossas carteiras se aproveitaram deste movimento. As incertezas são muitas, mas mantemos nosso viés mais otimista.

Aproveitem o seu fim de semana!

Edu Castro
Chief Investment Office
Portofino Multi Family Office

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Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.

”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que aconteceu no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.