fbpx

Família Portofino,

Ufa! Finalmente uma semana que termina um pouco mais positiva para os mercados! 

Do lado doméstico, o poder Executivo conseguiu articular com o Congresso o encaminhamento de uma solução, mesmo que imperfeita, para a questão dos precatórios. Com o estresse político mantido em banho-maria, Guedes, Lira e Pacheco conseguiram se acertar e retomaram as negociações do lado político, negociação esta que incluiu também a continuidade das reformas estruturantes. A intenção é que a reforma tributária, a  PEC dos precatórios e a reforma do IR sejam resolvidas até o fim do ano. O risco agora passa a ser a tramitação. A conferir.

Na semana passada, mencionamos a importância de se acompanhar a divulgação do comunicado da reunião do COPOM visto que a decisão de elevação de 1% já havia sido previamente telegrafada pelo Roberto Campos no evento BTG Macro Day. A grande verdade é que os economistas se encontram meio perdidos quanto à condução da política monetária por isso tivemos interpretações diametralmente opostas do comunicado.  Lembrando que pelo comunicado, nosso banco central já se comprometeu com um aumento adicional de 1% na próxima reunião, algumas casas interpretaram o texto como mais brando, passando a trabalhar com a hipótese de redução do ritmo a partir da reunião de dezembro. Outros, porém, reafirmaram suas convicções quanto ao ciclo mais longo. Cresceu, portanto, a relevância da leitura atenta da ata a ser divulgada na próxima quarta.

Esta discussão é fundamental para definirmos nossa estratégia de alocação considerando que operações de carregamento de renda fixa ganham atratividade em um cenário de Selic por volta de 9%. Outra discussão derivada da alocação em papéis da renda fixa, é a escolha do indexador mais apropriado. É bom termos em perspectiva que para esse nível de taxas de juros, considerando uma inflação próxima a 4% a.a., teríamos que buscar papéis com cupom acima de 5% a.a. para superar o CDI, pelo menos enquanto as taxas se mantiverem nesses níveis. Para as nossas alocações futuras, já estamos de olho na diversificação com papéis de crédito privado emitidos em CDI+. E para apimentar ainda mais essa discussão, o IPCA-15 veio acima do esperado pelo mercado, o que certamente suscitará revisões para o IPCA fechado de 2021.

Lá fora, o banco central americano, o FED, confirmou sua intenção de dar início à retirada de estímulos para o final do ano, mas nós, particularmente, interpretamos a mensagem como sendo mais preocupada.  Terminado o processo de compra de ativos, o passo imediatamente posterior seria o início da alta de juros. Verificando as sinalizações dadas pelos membros do comitê de política monetária, o FOMC, diferentemente da informação anterior que projetava o início do ciclo de aumento dos juros somente em 2023, alguns dos seus diretores já trabalham com a possibilidade de se antecipar o início do processo para 2022. Apesar de ter condicionado o início da normalização às condições gerais da economia ao longo dos próximos meses, já temos um sinal de que o pêndulo se moveu mais para o lado da preocupação com inflação antes claramente mais do lado das dúvidas quanto à consistência da retomada da atividade pós-Covid.

Um banco central mais preocupado com a inflação sinalizando um início mais próximo da retirada de estímulos e aumento de juros deveria ter sido percebido como ruim para os mercados, certo? Errado! Na verdade, depois da realização recente dos preços, o S&P comemorou a confirmação por parte do FED de que a recuperação da economia continua consistente e que, portanto o resultado das empresas continuarão sendo robustos. Uma notícia potencialmente ruim foi vista como positiva; é o mercado querendo ser feliz! Bom no curto-prazo, mas acende uma luz amarela, o que nos faz monitorar esse risco ainda mais de perto.

Por fim, vamos entrar no final de semana sem que a incorporadora chinesa Evergrande tenha feito o pagamento dos juros vencidos de um título em dólar no valor de U$ 82,5 milhões. O que mais nos preocupa nesse caso não é só a possibilidade de não pagamento até porque descartamos um eventual efeito dominó com consequências mais sistêmicas. Nos preocupa sim, o risco de uma maior desaceleração da economia chinesa e principalmente seu impacto sobre os preços das commodities.  Grande parte da queda do minério de ferro, por exemplo, é explicada pela crescente regulação do governo chinês e seu impacto sobre o setor imobiliário.

Aproveitem o final de semana!

Eduardo Castro.

 

Eduardo Castro é Chief Investment Office na Portofino Multi Family Office. Em sua carta “Causa e Efeito”, uma publicação exclusiva, traz os principais fatos da semana e os reflexos nos mercados financeiros globais.