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Tempo de leitura – Overview do dia em 15 minutos.

Nesta terça-feira (14), aconteceu o primeiro dia do CEO Conference Brasil 2023, evento promovido pelo BTG Pactual, que contou com a presença de diversas figuras importantes do cenário político e econômico brasileiro, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Bernard Appy, Secretário Especial da Reforma Tributária, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, entre outros.

Clique aqui e saiba como foi o segundo dia do evento: CEO Conference | BTG Pactual – Dia 2

Cenário Econômico e Político Brasileiro

O CEO Conference 2023 começou com André Esteves, Chairman e Sócio Sênior do BTG Pactual, como o primeiro entrevistado. O tópico de início de conversa foi sobre o novo governo e as questões da política fiscal, da qual ele relacionou que quanto mais saudável, menores os juros. “Acho que o presidente tem uma natural ansiedade de rapidamente atender a população que ele enxerga como seu objetivo de governo, algo que acho louvável e respeitável. O risco, entretanto, é essa ansiedade buscar um atalho. O atalho não vai levar a lugar nenhum”, disse Esteves.

A “guerra fria” também foi tema no painel. O assunto que vem dominando as manchetes nas últimas semanas foi abordado em outras entrevistas, mas Esteves, perguntado sobre o assunto, disse que devemos torcer para o Brasil. Ele ressaltou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, está fazendo um trabalho excepcional e opinou: “Dizer que ele está sabotando algo é ingenuidade. Está claro que performa um trabalho técnico. Se fosse para sabotar algum governo, teria sido o último, quando subiu a taxa de juros”.

Adiante, as eleições foram tema do painel. Para Esteves, o governo não foi a vitória de um partido e nem de uma ideologia. “Um segmento da sociedade acreditava que a defesa da democracia passava pela mudança de poder”, explicou. Ele ainda ressaltou o fato do Brasil possuir eleições limpas e “uma das mais modernas do mundo”.

No ambiente externo, o sócio sênior do BTG demonstrou seu pessimismo acerca das projeções muito positivas, na opinião dele, sobre o processo de desinflação no mundo. Ele explicou que a Europa não resolveu a questão da guerra na Ucrânia, na verdade, ela se acostumou. E, ao contrário do que muitos pensam, o conflito escalou nos últimos meses. A análise sobre a China é que haverá uma onda muito positiva agora, mas no médio prazo eles ainda têm desafios, como o Real Estate. Por último, as tensões recentes entre EUA e China terão um desenrolar. 

Política Monetária Brasileira

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi o segundo convidado do primeiro dia de evento. O painel passou por diversos assuntos, desde o cenário nos Estados Unidos até a implementação tecnológica que o Banco Central implementou.

No que diz respeito aos Estados Unidos, Campos Neto destacou bastante a questão inflacionária por lá e destacou a importância de acompanhar o ritmo e o desenvolvimento da inflação.

Como não poderia deixar de acontecer, o presidente foi questionado sobre o “braço de ferro” envolvendo o Banco Central e o governo. “Acho que é importante respeitar as instituições e seguir as regras do jogo”, disse ele sobre as questões acerca de uma revisão na meta da inflação. Na relação com o novo governo, Campos Neto pediu “um pouco mais de boa vontade”.

“O investidor é muito apressado, é muito afoito. A gente precisa ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Acho que tem uma boa vontade enorme do ministro Haddad, de falar: olha, temos aqui um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina, tem um arcabouço que está sendo trabalhado. Já foram elaborados alguns objetivos. A gente precisa ter um pouco de boa vontade”, declarou, Campos Neto.

Acerca da polêmica da autonomia do Banco Central, ele afirmou ser muito importante e ainda mencionou alguns países como exemplo. Ele mencionou o Chile, onde não mexer com a autonomia da autoridade monetária é um dos princípios, e também falou do Peru, que vive uma crise política, mas que, segundo ele, o presidente da autarquia peruana dirige de forma totalmente independente, sem as interferências de um sistema político instável.

A tecnologia também foi tema do painel. Campos Neto debateu sobre pix e real digital, dizendo que já há um piloto da moeda digital. Ele também explicou que “é um processo bom para os bancos que vão ter mais digitalização em seus processos e vai gerar muita eficiência”.

Novo Governo e os Efeitos nas Carteiras de Ações

André Caldas, Sócio da Clave Capital, Christian Faricelli, Sócio da Absolute Investimentos, e Laercio Henrique, Sócio BTG, foram,os convidados e discutiram sobre cenário e renda variável.

Caldas comentou sobre o cenário de juros altos e a falta de visibilidade para saber qual vai ser o momento de corte, criando um cenário desafiador. Ele foi perguntado também sobre empresas estatais, das quais destacou o Banco do Brasil que, segundo ele, está com um valuation muito atrativo e em um bom momento. O sócio mencionou também a Petrobras, mas ponderou que aguarda mais definições do novo presidente.

Laercio foi por esse campo das estatais, porém, ao contrário de Caldas, opinou que prefere se expor a um banco privado, como o Itaú, por exemplo, ao invés do Banco do Brasil. Ele também comentou sobre o caso das lojas Americanas, que definiu como a “maior fraude contábil que conhece”. 

O apetite do investidor estrangeiro foi alvo de debate. Faricelli disse que o investidor acha que em algum momento os juros cairá e está de olho no cenário para os emergentes. “O investidor local está com muito medo do governo e o estrangeiro com menos. O investidor estrangeiro que está vindo para o Brasil é puramente o que está fazendo trade global, então da mesma forma que ele entrou com o dinheiro, ele pode sair. Não é uma visão de 5 ou 10 anos”, completou.

O Futuro do Mercado Brasileiro de Capitais

João Pedro Nascimento, presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), foi outro convidado do primeiro dia de evento. Dentre os assuntos discutidos, ele passou sobre importantes normas implementadas pela instituição nos últimos anos, como o marco legal das startups (flexibilização da dispensa das demonstrações financeiras para as companhias abertas com receita bruta anual inferior a R$ 500 milhões), a nova regra de fundos de investimento (apresentou uma simplificação, consolidação em um arcabouço único), a resolução 135 (regra que fala dos mercados organizados) e a nova regra dos assessores de investimentos (promove a liberdade e acaba com a exclusividade regulatória).

Além disso, Nascimento comentou sobre o open capital market, o qual é a transposição do open finance para o mercado de capitais, passando a ideia de finanças descentralizadas e abertura do mercado de capitais, e sobre o evento que atingiu a Americanas. Nesta linha, sem citar nomes, ele disse que a CVM não comenta nenhum caso específico, mas tratam como algo gravíssimo, que não pouparão esforços para responsabilizar cada um dos responsáveis pelos acontecimentos e classificou o caso como lamentável.

O Momento do Varejo Brasileiro

Painel bastante aguardado em meio a toda polêmica envolvendo a Americanas, gigante do setor do varejo, Stelleo Tolda, Conselheiro do Mercado Livre, e Roberto Fulcherberguer, CEO da Via, falaram sobre os acontecimentos da empresa e outros aspectos do mercado.

Em relação ao caso da Americanas, Tolda contou que houve um impacto no setor, mas ponderou que, além disso, houve o aumento da alta de juros do ano que implica fortemente no cenário competitivo. Ele explicou que os recentes eventos, do ponto de vista do investidor, traz a lição da importância de ser mais seletivo.

O conselheiro ainda falou sobre o mercado em geral, com destaque para a participação dos players estrangeiros, tais quais Amazon, Shopee e Shein. Ele afirmou que essa chegada não é surpresa, dizendo que o potencial de crescimento do mercado tem acomodado todos. “Esses outros players trazem novidades, e quem decide é o consumidor, que vai atrás do melhor preço, experiência e outros atributos”.

Transição Energética: Fontes Alternativas e Crescimento

A transição energética também foi alvo de debate durante o CEO Conference de 2023. Com a presença de Marcos Lutz, CEO da Ultrapar, e Mauricio Bähr, CEO da Engie Brasil, o painel percorreu sobre o posicionamento do Brasil e do mundo neste tema.

Lutz destacou as vantagens do Brasil, caracterizando como um país diferente e privilegiado. Ele afirmou que o biocombustível é uma parte do ecossistema renovável que ainda é muito subutilizado em uma perspectiva global. “O biocombustível como uma política de governo faz muito sentido para o Brasil”, disse.

As consequências energéticas da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, na opinião de Bähr, é uma lição para nós que estamos distantes da Europa. “O maior aprendizado que tivemos foi que a Europa se valeu de uma infraestrutura de muitos anos que permitiu a ela garantir a segurança de suprimentos nesse período. Para o Brasil fica que devemos aproveitar o momento de bonança energética para construir a nossa infraestrutura para garantir essa segurança de suprimentos.

A Agenda de Reformas Estruturais do Brasil

Bernard Appy, Secretário Especial da Reforma Tributária, e Gustavo Guimarães, Secretário Executivo do Ministério do Planejamento, participaram do painel junto a Mansueto Almeida.

Os três discutiram sobre a reforma tributária e o amadurecimento da proposta. “Hoje estamos em uma situação mais favorável à aprovação da reforma tributária. Pelo amadurecimento da sociedade, entes federativos e pelo avanço no congresso nacional o tema já avançou muito”, explicou Appy.

Appy falou que um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) ideal na reforma tributária deve ter o mínimo possível de benefícios fiscais, que geram, segundo ele, distorções nas alocações da economia, contrapondo ao Brasil que tem cinco impostos entre federais, estaduais e municipais. Neste sentido, para Appy, o IVA para dar certo aqui no Brasil precisa ter o menor número de alíquotas possível e nenhum benefício fiscal.

A Agenda Política Brasileira: O Papel do Senador

O último painel do dia recebeu o presidente do Senado Rodrigo Pacheco. Pacheco passou por diversas temáticas e disse que após a sua reeleição no Senado busca a unificação de “um Senado que seja um só”. “Nosso trabalho é em busca constante de uma reunificação na Casa, assim como no Brasil”.

O embate entre governo e Banco Central tomou boa parte do tempo do painel, assim como foi em outros. Ele afirmou que não houve nenhuma formalização quanto a retroceder a autonomia do Banco Central ou desoneração de Campos Neto. “Não vejo nenhuma perspectiva de retrocesso em relação à autonomia do Banco Central”, opinou.

Ele ainda expôs o que pensa sobre o comportamento do governo nessa questão e disse que “acha muito importante a sinceridade e verbalização do que se pensa, mas tem certeza que o presidente Lula compreenderá que essa é uma realidade que ele e o governo terão que conviver”.

A entrevista com a jornalista Amanda Klein discutiu sobre os atos de 8 de janeiro, polarização das eleições, a busca pela reconciliação e reforma tributária. A respeito desta última, ele expressou o desejo de que a reforma seja concretizada. “Nós temos que fazer a reforma tributária. O desejo é esse ano”.

Por fim, Pacheco foi perguntado sobre os atos de 8 de janeiro e de uma possível participação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele respondeu que “não pode afirmar isso. Essa será uma investigação que com certeza vai ser feita. O que eu atribuo a ele [Bolsonaro] foi a sua incapacidade de conter sua militância e adeptos. Não houve da parte dele fazer com que aquelas pessoas entendessem que democracia é algo que não se mexe”, finalizou.

O CEO Conference Brasil 2023 retorna nesta quarta-feira (15) com a presença de Fernando Haddad em um dos painéis.

Este conteúdo é produzido pela PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE e fomenta o diálogo sobre a política e o empresariado brasileiro. A nossa opinião é neutra e não é partidária.