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Família Portofino,

T.I.N.A. é um acrônimo para a expressão em inglês “there is no alternative”. Dizem que o termo foi cunhado ainda no século XIX, por um intelectual britânico entusiasta do liberalismo clássico. Aos críticos do capitalismo, da democracia e do livre mercado, Herbert Spencer costumava afirmar “não existir melhor alternativa”.

Também na Inglaterra, quase um século depois, a primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, empregou a mesma expressão para responder às críticas ao seu governo quanto às decisões pró-mercados de se desregulamentar a economia, controlando gastos e colocando limites ao estado de bem-estar social. Para a icônica primeira-ministra, não existia melhor alternativa à economia de livre mercado, muito menos a ideia de estado keynesiano defendida pelo Partido Trabalhista inglês, onde o pilar de maior intervencionismo do governo na economia era a ideia central.

Não faz muito tempo, a expressão T.I.N.A. foi bastante utilizada por gestores e analistas de investimentos para descrever a necessidade de se aumentar o risco dos portfólios, como a única alternativa viável no mundo que, após a crise financeira global de 2008, se viu obrigado a conviver com juros nominais e reais negativos. Só para pontuar, há pouco mais de 2 anos, no auge da pandemia, a taxa de juros nominais dos títulos alemães de 30 anos operaram marginalmente negativos. E para não acharmos que estas taxas negativas se explicam unicamente pela crise gerada pela COVID-19, em 2019, pouco antes do aparecimento dos primeiros casos, a taxa nominal dos títulos de 10 anos emitido pelo tesouro suíço chegaram a incríveis -1% a.a.

Nem precisamos recordar o quanto esta ausência de alternativas mais conservadoras de investimentos direcionou a construção das carteiras dos investidores para alternativas mais arriscadas, no Brasil e no mundo. Ações, Private Equity, Venture Capital, Real Estate, investimentos offshore, crédito estruturado, são exemplos de classes de ativos que vimos crescer na esteira da T.I.N.A.

Por muito tempo, essa maior alocação em ativos de maior risco se pagou agregando rentabilidade às carteiras. Contudo, recentemente, a conta chegou travestida nos mais altos níveis de inflação mundial nos últimos 40 anos. Esse ambiente de enorme liquidez e juros extremamente baixos desde 2008, agravado, em um primeiro momento, pela restrição de bens de consumo e depois por uma demanda concentrada em serviços com a reabertura das economias, obrigou a maioria dos bancos centrais a acelerar o processo de normalização dos juros de forma célere e intensa. A contrapartida a esse freio de arrumação foi uma relevante correção nos preços dos principais ativos financeiros.

A típica carteira dos investidores americanos é composta por uma alocação média de 60% em ações e 40% em renda fixa. Mantida a tendência dos mercados em 2022, o retorno deste portfólio caminha para ser a pior dos últimos 50 anos, pelo menos. Essa constatação coloca em perspectiva o tamanho do ajuste que já se materializou.

Os juros no Brasil já atingiram 13,75% e a inflação, mesmo desconsiderando a desoneração de impostos sobre combustíveis e energia elétrica, já mostra sinais de arrefecimento. Já nos Estados Unidos, o processo de combate à inflação encontra-se em um estágio anterior. Os juros básicos já foram rapidamente elevados para 3,5%, mas projetam continuar pelo menos até 5% ao longo do primeiro trimestre de 2023.

Não trabalhamos com um cenário de ruptura, o que não quer dizer que deixaremos de conviver com a volatilidade. Deveremos vivenciar economias em desaceleração e recessões, mais ou menos intensas a depender da geografia, certamente se materializando. Mas, os ajustes observados nos preços, na maioria já refletem este cenário provável.

No Brasil, CDI a 13,65%, operações de crédito estruturado a CDI+3%/4% em média, títulos corporativos isentos com estrutura de garantias a IPCA + 8%, ações brasileiras baratas sobre qualquer métrica de valoração, a correta curadoria de gestores de fundos Multimercados com resultados que comprovam sua capacidade de performar mesmo em cenários extremamente voláteis e pessimistas, títulos prefixados com prêmio sobre o cenário de redução futura da Selic são algumas das várias oportunidades que temos nos posicionado ou estamos próximos.

Nos Estados Unidos, os títulos de empresas locais de maior retorno (High Yield) já apresentam rentabilidades projetadas próximas de 10%. Não diferente do que observamos nos mercados mais líquidos, investimentos alternativos, como Private Equity e Venture Capital, também tiveram reprecificações importantes. Abre-se aqui espaço para novos investimentos nesta classe a preços bem mais atrativos.

Vivemos em um mundo em franca transformação também no ambiente dos investimentos. Estamos abandonando um ambiente no qual a única alternativa para se buscar retornos adicionais aos portfólios era aumentar suas parcelas de maior risco e menor liquidez. Caminhamos para outro, onde, com critério e prudência, se terá a oportunidade de montar carteiras bem mais equilibradas em termos de risco, com a possibilidade de serem mais previsíveis e longevas do ponto de vista da rentabilidade. Definidas as eleições no Brasil e estabelecida maior previsibilidade quanto aos ajustes da economia mundial, excelentes oportunidades surgirão. Estamos, aos poucos, ficando mais otimistas com o cenário.

Até a próxima!

Eduardo Castro
CIO – Chief Investment Officer
PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE

“Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO. Uma carta de gestão que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo e os reflexos nos mercados financeiros globais.

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