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Havia muita expectativa sobre qual seria o comportamento da economia chinesa após a reabertura econômica com o fim das restrições impostas durante a pandemia de coronavírus. A expectativa era que houvesse um boom de crescimento do gigante asiático, contudo, apesar da recuperação estar ocorrendo, o ritmo não supre as expectativas de antes.

Importantes indicadores apresentaram uma queda significativa que impacta diretamente na percepção de crescimento. Dados recentes do PIB, setor imobiliário, produção industrial, vendas no varejo, exportações e importações mostraram uma desaceleração e ficaram abaixo das previsões. Especificamente sobre o setor imobiliário, ele foi o principal impulsionador da economia chinesa por muito tempo, hoje representa quase 20% do PIB do país, mas se tornou uma grande preocupação.

A inflação ao produtor e ao consumidor seguem em patamares historicamente baixos. A primeira, em junho, caiu 5,4% em relação ao mesmo mês em 2022. Já a inflação ao consumidor, caiu 0,2% em junho em relação a maio e ficou estável (0,0%) na comparação com junho de 2022. Esses dados mostram uma recuperação que caminha muito lentamente, com a população cautelosa nos gastos, impactando diretamente no movimento de recuperação pós-pandemia.

Empurrãozinho do governo

Observando a necessidade de garantir caminhos para que a economia reaqueça, o governo adotou algumas medidas para estimular o consumo. No último mês, a política monetária foi alterada para estimular o consumo, reduzindo as taxas de juros, como de longo prazo, que influencia diretamente o financiamento imobiliário. Esse movimento deve permitir que as obras iniciadas que estavam paralisadas possam ser concluídas. 

A redução nas taxas de juros é a primeira realizada pelo Banco do Povo (Banco Central da China) desde agosto de 2022. Apesar dos recentes estímulos, o mercado ainda espera que novas medidas sejam anunciadas para fortalecer o processo de recuperação dos chineses.

Essa expectativa ficou ainda mais latente após a divulgação do PIB chinês do segundo semestre vir abaixo do esperado, ressaltando a recuperação econômica aquém do projetado por lá. O Produto Interno Bruto da China cresceu 6,3% no segundo trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação à média de crescimento do PIB global de 3%, esperado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), os dados chineses estão bem acima. Contudo, a expectativa para o crescimento chinês era maior, dito que, há um ano, a economia do país passava por uma dura política de Covid zero que colocou inúmeras cidades em lockdowns. Neste sentido, a base de comparação era baixa, o que elevou as expectativas. Enquanto isso, a China segue crescendo, contudo em um ritmo de recuperação abaixo do esperado.

Em relação ao primeiro trimestre, a alta foi de apenas 0,8% – contra 2,2% na comparação entre 1T23 e 4T22.

Nos últimos dias, o Politburo (comitê formado pelas mais poderosas lideranças do Partido Comunista Chinês) foi marcado pelo anúncio de estímulos para a economia, apesar das autoridades não terem entrado em muitos detalhes. A agência de notícias estatal Xinhua publicou um resumo dizendo que o governo quer estimular os gastos com consumo, combater o desemprego e apoiar o fragilizado setor imobiliário.

Enviando currículos…

Outro ponto preocupante é a alta taxa de desemprego para jovens entre 16 e 24 anos, que chegou a 20,8% em maio, a maior já registrada no país. Resumidamente, está ocorrendo um aumento na base de jovens educados e o mercado de trabalho não está acompanhando o ritmo de crescimento e oferecendo vagas condizentes em termos de salários e qualificação profissional.

O governo tem tentado fazer com que as empresas contratem mais profissionais qualificados e que os recém-formados aceitem trabalhos braçais e procurem oportunidades no interior. Entretanto, essa solução não tem brilhado aos olhos dos jovens. E essa situação tende a piorar ainda mais nos próximos meses, com a expectativa de que quase 12 milhões de estudantes devem se graduar na faculdade. Mais um problema que o governo de Xi Jinping tem para resolver.

China x Ocidente

Como se pode ver, não são poucas as atenuantes que afetam a economia chinesa. Uma das principais é a guerra comercial com os americanos. Acusações de espionagem, disputas geopolíticas, restrições no setor de tecnologia e outras questões econômicas. A “Guerra dos Chips”, os semicondutores, é a principal expoente dessas tensões, principalmente com o avanço da inteligência artificial.

Sabendo dos interesses chineses, os Estados Unidos, a Holanda e o Japão se uniram para restringir o acesso da China a suas tecnologias. O mercado de chips, de extrema importância no ponto de vista econômico, tecnológico e militar, movimenta mais de US$ 500 bilhões por ano com a expectativa de dobrar esse número até o fim da década.

O posicionamento chinês em relação a Taiwan também é outro empecilho na direção de um melhor relacionamento com o Ocidente. As constantes ameaças de invasão e reinvindicação do território vizinho, assim como a neutralidade na guerra da Ucrânia, são atenuantes que dificultam a colaboração econômica global.

O sentimento ainda é de otimismo

No último mês, durante a cúpula do Fórum Econômico Mundial, Li Qiang, primeiro-ministro chinês, demonstrou confiança quanto ao crescimento chinês.

O ministro demonstrou otimismo com o PIB, ainda mostrando confiança com um crescimento anual de 5%. As falas de Qiang foram recebidas com a esperança de que o governo pode anunciar mais medidas de estímulos para impulsionar a recuperação econômica do país, que vieram durante o Politburo. Mesmo com poucos detalhes e informações de como serão essas medidas, o posicionamento do governo chinês com o intuito de impulsionar a economia é bem recebido.

A China é a segunda maior economia do mundo, representando aproximadamente 15% do cenário mundial. Os próximos meses darão respostas de como a economia reagirá e como o mercado receberá um avanço mais pujante ou mais dados fracos e seus impactos na economia global. Seguimos monitorando o mercado chinês e realizando movimentos táticos que interpretamos como apropriados para os objetivos dos nossos clientes.

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