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Família Portofino,

Vamos nos aproximando do fim de mais um mês e os principais assuntos continuam os mesmos, inflação e o ajuste necessário das taxas de juros ao redor do globo. Desta vez, a Super Quarta – decisão de juros no Brasil e nos Estados Unidos – agitou os mercados. Por aqui, Campos Neto e sua equipe decidiram pela manutenção da Selic em 13,75%. Algumas horas mais cedo, Jerome Powell informou mais um aumento de 0,75 ponto percentual – a terceira alta dessa magnitude e a quinta vez que os juros foram elevados por lá em 2022.

O combate à inflação continua, os bancos centrais seguem buscando controlar o processo inflacionário que afeta o mundo todo, sem exceção. Enquanto a alta de preços segue batendo recordes em muitas economias e as instituições se veem na obrigação de correr atrás do tempo perdido, o receio de uma recessão global segue fazendo barulho.

No nosso quintal, chegou o momento de dar uma pausa no aumento da Selic. O Brasil interrompeu o maior ciclo de alta da taxa de juros em 23 anos, saindo dos 2% em março de 2021 para os atuais 13,75%. Essa decisão de interromper o ciclo de altas só foi possível devido à antecipação da nossa autoridade monetária em antever que a inflação, que muitos países consideravam até então transitória, era muito mais severa e disseminada do que se imaginava. Sabe aquela expressão “meu passado me condena”? Pois bem, quando se trata de inflação o brasileiro é escolado e talvez isso tenha ajudado o BC a não brincar com o fogo.

O comunicado do COPOM deu sinais do que podemos encontrar mais adiante. Primeiramente, a decisão não foi unânime, dois membros votaram para um aumento de 0,25 ponto percentual, enquanto os outros sete membros, incluindo o presidente Roberto Campos Neto, votaram pela manutenção. Além disso, o comunicado apontou que a taxa pode estacionar neste patamar por um período suficientemente prolongado. Contudo, a autoridade estará vigilante e não hesitará em retomar o ciclo de alta caso a desinflação não ocorra como o esperado. 

Nos Estados Unidos, Jerome Powell teve a árdua missão de realizar mais um aumento de 0,75 ponto percentual, para uma faixa de 3% a 3,25%. Antecipando seus próximos movimentos, o Fed já anunciou que novos ajustes serão necessários, reforçando o compromisso da autoridade em trazer a inflação de volta à meta de 2%. “Nós não podemos falhar em relação a isso [reduzir os índices de inflação]”, declarou Powell. Olhando o copo meio cheio, pelo menos a guerra está sendo travada: o banco central americano não vai descansar enquanto não observar sinais de desinflação. No lado do copo meio vazio, essa já foi a quinta alta neste ano e os índices seguem decepcionando. Principalmente a inflação de serviços ainda se mostra desancorada.

De volta à recessão, o presidente do Fed não mediu palavras ao dizer que um “pouso suave” é desafiador, “mas não trazer a inflação para baixo traria dores maiores mais adiante”. Como resposta, o mercado não digeriu bem os remédios prescritos pela autoridade monetária americana e segue amargando quedas desde ontem.

“Opositores, sim. Inimigos, nunca”

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva tem se posicionado desta forma ao ser questionado sobre a sua aliança com políticos, adversários em outras eleições do passado recente, com visões diferentes das suas. Nesta semana, oito ex-presidenciáveis se reuniram para demonstrar apoio a Lula. Dentre os políticos ligados mais à esquerda, como Luciana Genro e Guilherme Boulos, os de centro-direita, como Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin, o partido de Lula segue apostando na “frente ampla pela democracia”.

Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central / Foto: Valor Econômico

Apesar de ter sido apenas uma sinalização de apoio, o mercado não deixou de imaginar que o movimento possa ser uma abertura para que Meirelles venha a integrar a equipe ministerial de Lula. Nome respeitado e de credibilidade no cenário econômico global e importante na história econômica do nosso país, o ex-ministro foi o criador do teto de gastos, por exemplo. Esta aproximação do petista com Meirelles, neste momento bastante próximo das eleições, demonstra uma certa insegurança do PT e do seu candidato, mesmo com a diferença atual superior a 10 pontos percentuais, segundo o Datafolha.

Diferentemente do consenso de mercado, trabalhamos com uma certa assimetria positiva na definição das eleições. Apesar do favoritismo do ex-presidente Lula, estudos recentes mostram a candidatura de Bolsonaro em mais competitiva do que sinalizam a média das pesquisas eleitorais. Um posicionamento do PT mais ao centro amparado por figuras de histórico mais liberal como, por exemplo, o ex-ministro Henrique Meirelles ou uma possível reeleição do atual governo poderão destravar certo valor nos ativos brasileiros.

Movimentos táticos: Gestão Portofino MFO

O discurso de Powell foi mais “hawkish¹” do que o esperado,  e por ainda não saber quando os juros começarão a afetar a atividade ou qual será a taxa terminal, o mercado segue estressado e ainda observamos ajustes nos ativos internacionais. Com as projeções da taxa de juros da economia americana apontando para 4,4% ao final de 2022 e de 4,6% em 2023, o fim do ciclo de aumentos nos parece mais próximo. No atual nível de preços, principalmente a renda fixa começa a nos parecer atrativa.

No Brasil, mesmo com um comunicado mais duro vindo do presidente Roberto Campos Neto em relação ao combate contra a inflação, as discussões já migraram para a previsão do início do processo de redução de juros, provavelmente em meados do próximo ano. Desde que não haja nenhum novo fato global que provoque uma mudança brusca negativa no processo inflacionário externo, uma maior valorização do dólar ou que o cenário fiscal do país não se deteriore, o aumento das posições de risco nas carteiras começa a fazer sentido.

Por mais que tudo ainda pareça nebuloso quanto aos juros e à inflação, a nossa análise é que, por mais duras que tenham sido as duas autoridades monetárias, uma leitura mais analítica nos apresenta motivos para sermos otimistas, na margem. Já observamos uma luz no fim do túnel, nos resta saber se este túnel é de 1 ou 10 quilômetros.

Até a próxima!

Eduardo Castro
CIO – Chief Investment Officer
PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE

“Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO.
Uma carta de gestão que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo e os reflexos nos mercados financeiros globais.

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Legenda:
¹Hawkish
 e Dovish são condutas dos Bancos Centrais e governos em relação ao cenário econômico. Uma postura hawkish é caracterizada pela elevação de juros e contração monetária. Já a política dovish é marcada pela redução de juros e expansão da oferta de moeda.